sábado, 13 de setembro de 2008

Agradecimentos



Estou chocada! São 7h 20min e acabo de acordar de um pesadelo. O que me choca é a realidade que estava nele, foi só um sonho? Graças a Deus! Mas quantas vezes não ouvimos falar que mais ou menos isso aconteceu de verdade?
Estava com uma mulher que talvez nem conhecesse direito, não era alguém familiar, e entrava em um estacionamento, aqueles de subsolo de prédio. Quando três homens - mais para meninos do que homens - falavam com a gente ei, moças... Depois de o ignorarmos, ele disse é uma falta de respeito eu falar com vocês e vocês não me responderem, então comecei a ficar preocupada, pensei que o rapaz podia realmente ter ficado chateado ou nervoso, mas comecei a rezar e perguntar para minha colega se não tinha medo de ignorar pessoas como ele.
Passando tudo isso na minha cabeça, vejo por reflexos e olhando discretamente para trás que o cara que mexeu com a gente estava nos seguindo. Tremi. Gelei. Procurei logo aquelas cabines de pagar o estacionamento. Corri puxando a mulher, mas foi em vão, o menino estava nos seguindo mesmo e não ia nos deixar em paz.
Quando eu avistei a cabine de pagamento e vi um homem meio gordo com uma camisa azul, pistolas em seus bolsos e tomando café, pensei estou salva, ali tem um policial que me protegerá e entrei gritando que havia um rapaz nos perseguindo.
Em um ato pouco heróico, mas a único que passou pela minha cabeça naquela hora, me enfiei atrás do policial como uma criança se enfia debaixo da saia da mãe. O policial sacou a arma de seus bolsos e apontando para o marginal, pediu para ele dar meia volta, mas o cara não obedeceu, ele estava realmente nervoso.
A partir daí eu já não sei mais como funciona a realidade, como agem os policiais nessa hora, nem sei se era um policial realmente ou apenas um guarda terceirizado, eu sei que meu subconsciente fez uma mistura de notícias de Jornal Nacional com filmes gringos e filmes nacionais, três ícones dos quais posso me espelhar.
O policial atirou no homem, mas errou, jogou a arma no chão e pegou a outra, mas a arma que ele jogou estava cheia, não entendi o motivo que o levou tê-la jogado, o rapaz começou a atirar também e eu não sei se o policial morreu ou se ele fugiu. Provavelmente a segunda opção já que não me lembro de corpo de covarde nenhum no chão.
Pensei na hora estou perdida, minha vida acabou e rezava... Rezava muito. O assaltante nervoso apareceu de novo e disse eu só queria o celular de vocês e a mulher deu o dela e saiu gritando e correndo leve meu celular, leve meu celular, mas eu continuei agachada abraçando as pernas, estava muito assustada.
Foi aí que tudo começou a me confundir, tiro para lá, tiro para cá, eu já não sabia quem era do bem e quem era do mau e muita gente apareceu armada. Veio em minha direção um homem que achei que ia me matar, me apontando uma arma, mas ao se aproximar ele a virou para ele e me entregou aquela coisa que nunca tinha encostado antes em posição de tiro, teoricamente era só atirar se eu corresse algum risco.
O problema é que estava vazia, totalmente leve, posso não ter estado lá, mas senti a leveza daquilo como se estivesse segurando alguma caixa sem nada dentro. Efim desarmada e sem ninguém para me salvar, não sabia o que fazer e me restava rezar. Era só um celular que ele queria, mas todo mundo que estava lá naquele momento acabou se envolvendo de alguma forma.
Eu estava com muito medo, eu tremia, minhas mãos seguravam aquela arma prateada e leve, minha família passou rapidamente pela minha cabeça e o motivo daquilo tudo que era apenas dois celulares não me saiam do pensamento, por que eu não entreguei meu celular, apenas? Não dizem que vão os anéis mas ficam os dedos? É, na verdade ele não nos tinha assaltado quando estrávamos no estacionamento, na realidade ele mexeu com a gente e nós o ignoramos. Da onde surgiu tanta racionalidade naquele momento, eu não sei..
De repente, uma mulher loira, alta e de blusa de alcinha, estilo Cameron Diaz –talvez tenha sido mesmo alguma personagem dela- correu me procurando, ela me queria, não queria mais ninguém, só a mim, provavelmente enviada pelo cara que ignoramos e sua gang, ela veio até mim, não se importou com a arma que estava apontando para ela me deu alguns tiros, no rosto –meu lindo rosto ficaria deformado para sempre- abaixei a cabeça, senti nas costas uma dor infinita, e em câmera lenta tudo ia se apagando.
Eu estava morrendo. Que sensação estranha morrer. Pedi perdão a Deus por tudo rapidamente antes que meus olhos se fechassem. Minha vida não valeria mais nada, eu era apenas uma vítima de intolerância e muita ignorância, mas eu não era a única não: havia muita gente deitada, inclusive o policial que deu sua vida tentando nos salvar –ele não era tão covarde como disse que era –.
Então eu senti uma sensação de paz, agachada, num calor que parecia ser familiar, tudo estava tão calmo que a sensação que eu tive era que eu estava dentro da minha cabeça buscando uma saída. Rezava Pai do Céu, me leve para junto do Senhor... Salve-me. Era estranho estar morrendo, eu estava anestesiada e meu único medo era de viver daquele jeito para sempre.
Quando eu estava aquecida e explorando minha nova morada, ouvi vozes e vi luzes. Pessoas chamando por sobreviventes no estilo da hora do resgate em Titanic onde Rose teve que nadar nas águas geladas e pegar um apito para que lhe ouvissem. Eu não. Eu fiquei quieta com a minha confusão. Não pensei mesmo em ser salva, eu estava bem ali, naquele calor quase uterino. Eu me deixei morrer, mas se eu tivesse sobrevivido, talvez, tenha ficado deformada, paraplégica ou tivesse morrido no hospital. Eu não quis passar por tudo isso, simplesmente fechei minha mente para o mundo externo e rezei.
Rezando acordei. Fiquei parada na minha cama e sentindo aquele calor, entendi de onde ele veio no meu sonho, pensei em voltar a dormir para tentar acabar essa noite diferente, mudar a minha escolha para a vida, mas deixei pra lá por que era apenas um sonho e eu estava acordada e viva. Pensei nas futilidades da vida, nas brigas que começam a toa, nas pessoas que tentam tirar proveito das outras por serem mais fortes ou terem algum argumento violento para conseguir isso. Dá medo sair na rua, dá medo pegar um ônibus, dá medo você trabalhar para comprar o que quer para que, quando Deu distrai um tiquinho olhando por outra pessoa mais necessitada, os outros tirem de você. Não é culpa Dele, não. É culpa da gente mesmo.
Obrigada meu Deus por mais um dia de paz, pelo menos, em minha vida. Obrigada por mais um dia de vida e de mais uma oportunidade de mudar o mundo que estamos construindo.Com Você, eu sou mais forte. Obrigada.

Nenhum comentário:

 
Share |