Por que será que quando pensava em seus cabelos presos por uma presilha no formato de estrela, olhos cor de mel bem concentrado e sua fala interminável e aguda demais – como ele mesmo a descrevia – ele não conseguia prestar atenção em nada mais do que fazia?
Ele estava distraído na frente de seu notebook, o nosso trabalho levava praticamente o mesmo tempo, em situações normais, mas naquela semana ele não estava concentrado, então sempre se atrasava com os prazos.
Eu insistia para ele parar de pensar nela. Ele negava! O cara-de-pau me dizia que não estava pensando, mas como se precisasse dizer, as coisas que fazia o acusavam.
Hoje ele me disse, em ocasião quase inédita, que estava esperando que ela ligasse pra ele. Mas sabe o que foi o fim da “picada”? Ele ter admitido que havia muita chance de ela não iria ligar. Ele já havia mandado duas mensagens de texto e estava esperando uma resposta dela, usava isso de argumento.
Ele estava enlouquecendo, não era mais o mesmo. Nunca deixou de ligar para uma garota por medo. E também, nunca tínhamos deixado de tomar cerveja no fim do expediente por causa de mulher alguma, e foi isso quase que aconteceu. Eu disse quase por que se não fosse pela minha insistência, ele teria deixado nossa cerveja pra outro dia.
O que estava acontecendo? Não era pra ser só sexo? Aliás, quantos anos aquela garota tinha mesmo? Era legalmente aceito eles estarem saindo? Ele não poderia ser preso?
Quer saber mais um motivo para eu não estar nada feliz com essa situação? Ele era minha dupla nos mini-campeonatos de sinuca do bar, nos escolhemos como dupla já faz um bom tempo. Não por nos conhecermos praticamente a vida toda, mas por que éramos infalíveis juntos. Raríssimo encontrar duplas que nos desafiassem sabendo que iam ganhar, algumas vezes já perdemos, mas nos rankings semanais costumávamos estar em primeiro lugar. Agora estamos em quinto. Uma humilhação total. E por causa de uma mulher!
E ultimamente, quando ele bebe, fica bêbado, coisa que nunca tinha feito antes, outro dia tive que levá-lo nos meus ombros e ele estava babando, foi humilhante também, costumávamos ser os mais normais do nosso bar preferido.
Ao convencê-lo de ir, pensei que podia ser uma idéia ruim, mas depois de tanto esforço não poderia mudar de idéia. E ele começou a beber responsavelmente por ter 15% - ou menos - de chances de ela ligar, ia dizer que era pra se esquecer dela e curtir e o telefone dele tocou: um toque horrível estilo Celine Dion cantada por uma voz rouca e velha. Com aquele toque, tinha que ser ela.
Então, ao estar sozinho na mesa, as duas canecas de cerveja cheia chegaram e eu sorri pra garçonete. De repente, me lembrei da minha namorada, que conheci aqui, devo ter ficado diferente no tempo em que começamos a namorar. Meu amigo também me chamou atenção na época, mas a decepção por ele estar diferente era tanta que eu nem me lembrei na hora.
Sorri que nem um bobão sozinho, meu amigo chegou sorrindo igualmente que nem um bobão. Demos gargalhadas escandalosas e brindamos com a cerveja ainda gelada, eu disse que era muito bom estar apaixonado, mesmo enlouquecendo, por uma mulher. E ele disse que era bom por que elas também estavam por nós.
- Por vocês, mulheres. Gritamos.
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