segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

João

Aperta o play aí e começa a ler:



        Estávamos deitados numa cama de solteiro, um pouco mais apertados do que o de costume, mas minha cabeça estava no peito dele, então nem sentimos a falta de espaço. “Essa semana nos vimos mais do que a vida inteira”, ele disse. E eu dei nos ombros, como se nem tivesse percebido. Não é só porque tenho o visto muito que vai mudar realmente o que a gente é um pro outro.
           Acho que sempre pensamos as mesmas coisas, pro nosso bem ou pro nosso mal. Hoje estávamos mais quietos do que o de costume, mas a minha cabeça estava no peito dele, então nem sentíamos a falta de assunto. “Como está sua vida aqui, tá gostando?”, ele perguntou. E eu respondi com sinceridade, que estava boa, mas parecia que nada havia mudado.
           O que eu não estava entendendo era porque tantas perguntas... era ele quem sempre contava as estórias e eu só ouvia, sem dizer nada. Recordo-me até de uma vez que ele estava mexendo nos meus CDs em casa e viu um de uma banda que ele também gosta, eu já sabia, ele não tinha nem ideia. “Nem sabia que você gostava desses caras...”, eu disse só “pois, é...”, como se eu já soubesse e fosse um absurdo ele não saber. 
           Quantas vezes já escutamos ou já mencionamos essa banda? Parece que quando eu falava, ele não me escutava ou já estava pensando no próximo assunto que ele ia falar. E sempre sobre ele... ele... ele... Aquilo não podia me fazer bem. Sempre eram os filmes, programas, assuntos, posições que ele queria... Mas minha cabeça estava no peito dele, então, nem parecia sentíamos as frustrações que vinham de mim. "E de resto? Não tem mais nada pra contar? Nada pra perguntar?", eu não tinha nada,  a única coisa que queria saber era se a gente ia continuar se vendo, mas nem disse nada.
           Um silêncio de repente, coisa que acontece sempre que ele não tinha mais nada pra dizer sobre ele mesmo. Ele veio me beijar, eu me levantei. Não queria mais ficar guardando tudo aquilo em mim, tínhamos que conversar. "Acho que é melhor esse ser o nosso último encontro", falei. Ele demorou um pouco para entender, mas logo perguntou porque e se eu estava com outro cara. O que eu podia dizer? Mentir eu não iria, se eu quero que nosso relacionamento cresca, eu não posso começar mentindo. Pensei na resposta: "não, mas seria melhor que eu estivesse... eu nunca vi relacionamento como o nosso... nunca vai pra frente...", e ele respondeu um "ah! é isso" maldito.
           O que ele esperava que fosse? "Eu gosto de ficar assim com você, qual o problema de não ir pra frente? A gente fica e se gosta... é legal ficar com você porque você me conhece, eu te conheço, sabe o que a gente gosta..." nessa hora eu tive que interromper. "se conhece? Como assim? Desde quando a gente se conhece?" Eu não sei porque disse aquilo, mas disse, me deu medo de colocar tudo a perder, mas acho que ele não é tão infantil pra simplesmente não dialogar... "Não? A gente já se conhece faz tanto tempo... A gente conversa tanto... Achei que a gente podia se considerar amigo, ou mais que amigo..." e como se não bastasse, deu uma pausa, beijou minha bochecha e disse: "as nossas bandas preferidas são as mesmas", sorrindo.
           Deitou de novo olhando pro teto. Eu deitei de volta no peito dele e me pediu que não deixasse "isso" se acabar, que ele gostava de mim, assim. É sempre confortável o peito dele, deve ser assim que ele me hipnotiza.  Ele deve saber que eu sou fraca... Quando vou conseguir perguntar se é sexo ou amor? O que será que ele quer?

3 comentários:

Isaque Criscuolo disse...

Ain, que trágico. CORRE DO PEITO DELE. É LÁ QUE ESTÁ O PODER HIPNÓTICO MESMO. ahh!

Unknown disse...

kkkkk, e ela acaba mesmoa aceitando o diálogo dele?? Credo que cara mais egoísta. Até parece o Isaque.

Gostei gabi. Mas essa mulher ai precisa ter mais atitulde! Yeah!

Júnior Batista disse...

Gente, será que só eu sou um romântico bobão?
Quase chorei, sério.
Eu acho que ele conhece ela, mais do que ela pensa, mas do jeito dele.

Beijos, mon amour.

 
Share |