sábado, 6 de setembro de 2008

E se fosse verdade?


Têm acontecido coisas incríveis comigo ultimamente, como por exemplo, o fato de que ninguém pode negar que meu cabelo anda espetacular, ou que eu estou conseguindo tomar meus remédios todos os dias, sem esquecer nenhum. Ainda tem o fato de eu estar conseguindo não gastar compulsivamente só por que recuperei meu cartão de débito, tem também o fato de que eu estou conseguindo comer em restaurante por quilo e comer tudo. Mas o que mais de fantástico aconteceu, foi que ontem superando todas as minhas expectativas, o bonitinho da minha classe veio falar comigo. Eu estava lendo, como de costume, sentada no chão do corredor esperando acabar a aula que eu não havia assistido bem em frente a porta da nossa classe, uma menina saiu de lá e deixou a porta aberta, aberta não, escancarada, ele colocou a cabeça para fora, me viu e veio até mim. Ele ficou parado por três segundos e me deu um “oi” tímido, eu retribuí com um sorriso e um oi mais tímido ainda. Ele perguntou “Está lendo o que?”. CARACOLES! Eu não acredito, ele está falando COMIGO e quer saber o que EU estou lendo! Não pode ser verdade. Pensei, mas só disse o nome do livro e o autor. Que burra! Puxa algum assunto! Hum, o que eu poderia dizer? Estou tão nervosa! . “Você gosta de ler?” Nossa, quanta besteira passa pela minha cabeça, por que perguntei isso? Que I-DI-O-TA! Foi realmente um assunto estúpido para puxar. Mas ele respondeu que sim, gostava de boas histórias. Perguntou se podia sentar ao meu lado. Óbvio, claro que sim, de-mo-rô, gracinha! Pensei. “Ahahn”, falei. Então ficou aquele silêncio, nós dois abrimos a boca para falar ao mesmo tempo, mas eu recuei antes que ele percebesse. “Qual a sua história?” Ele me perguntou com os lábios tremendo. O que? Por que ele não perguntou meu nome e minha idade? São perguntas fáceis de ser respondidas, e diretas. O que diabos irei dizer? Pensei “Sou uma espécie de nômade, quer mesmo ouvir o que tenho a dizer sobre minha vida?” Perguntei. Só falta ele dizer que não, se ele disser que não é um idiota, por que foi ELE quem perguntou, mas ele não vai dizer que não. Ai meu Deus, é claro que ele não vai dizer que não. “Claro que quero, fui eu que perguntei!” Gato, lindo, fofo! Autobiografia, qualquer exagero é devido a emoções fortes de relembrar os fatos. “Nasci em 88, logo tenho 20 anos...” comecei. “... morei desde nanica em um bairro da grande São Paulo quando ainda era apenas estradas de terras e as únicas diversões era ficar atrás do caminhão de lixo, no caminho casa-escola gritando “caminhão fedido” com meus irmãos, e na quadra onde morávamos tinha um parque e no quintal de nossa casa tinha um banco de areia num pomar, pomar esse cheio de frutas gostosas.” Como eu sou chata, por que ele ainda está ouvindo? Por que ele quer saber da minha vida? Indignei-me com meus neurônios. “Ainda quer ouvir?” Perguntei “sim, claro, depois conto a minha.” Ele respondeu sorrindo. “Está vendo esses óculos aqui? Uso eles desde os sete anos de idade! Com essa idade usava um tampão no olho esquerdo, não me pergunte por que, eu era obrigada!” Respirei “você é linda de óculos, vamos, continue!” O QUE? VOCÊ FAZ UM COMENTÁRIO DESSES, ME E-LO-GI-AN-DO E AINDA QUER QUE EU CONTINUE NORMALMENTE? Você está completamente maluco e... (Lembra que eu tinha respirado? Foi bom ter feito isso) “Então, aos sete, quase oito anos, mudei para o Rio de Janeiro” – uau! Como sou interessante. “morei em dois lugares diferentes na Barra da Tijuca e estudei em duas escolas. Ninguém gostava de mim. Não tinha amigos” Como eu sou dramática, Céus! “E aos 12 anos, quando comecei a ser mais legal, mais popular e fui dar meu primeiro beijo... Meu pai foi transferido novamente para São Paulo. – ainda bem, se não, nos não teríamos nos conhecido! Agradeci. Como se estivesse apaixonada por ele, não é, mas na verdade, estava conhecendo agora. “Vim morar em Higienópolis, aqui perto.” Continuei “Depois voltei lá para onde eu cresci, onde tinha o pomar e tudo mais... E então, há um ano e meio fui morar no interior. Voltei faz um mês. Namorei um rapaz um ano lá e, quando terminamos, logo resolvi voltar pra cá.” “Que bom” me interrompeu. “Como disse?” Perguntei. “Que bom que voltou, está morando onde agora?” Perguntou. “Aqui perto da Paulista”. Silêncio. Eu odeio silêncio. FALA ALGUMA COISA, GABRIELA!!! Não espere que ele vá dizer alguma coisa depois de tanta falação e... ele disse “Só isso?” Ele me perguntou quebrando o silêncio. Como só isso? Eu contei minha vida toda, nunca resumi tão bem todas as minhas casas! “Só” respondi. “E quanto ao seu futuro?” Que homem é esse? Por que ele está fazendo essas perguntas? Homem não faz esse tipo de pergunta a não ser se... “Quero fazer jornalismo.” Resposta direta, gostei, vai garota! Continue assim! “USP?” Perguntou. “Ah, não, não conseguiria nem se eu ficasse nesse cursinho dois anos... não gosto de estudar.” BURRA! “Penso em Casper, PUC ou Mackenzie” Legal, você se mostrou a pessoa mais desinteressante do universo, como assim USP não? Você tem que ao menos tentar. Mas essas outras são boas faculdades, ele vai achar que você é descolada e tal, isso é bom! “ E a sua história? Não vai me contar?” Lembrei! “Claro, vamos lá... nasci e cresci na Vila Mariana” Disse. “e o que mais?” Perguntei. “Mais nada, não sou descolado como você” ELE ME ACHA DES-CO-LA-DA!!! “Então tá. E... por que sua calça estava suja de tinta aquele dia?” eu sou a pessoa mais estúpida da face da Terra, ele vai achar, ou melhor, ter certeza, que eu fico encarando ele o tempo inteiro e reparando nesse detalhes. “Bem, na verdade, eu pinto” ele disse um pouco envergonhado. “Quadros?” Perguntei curiosa. “Não, ou melhor, também.” Gaguejou “Não sei bem, só faço pra me distrair, não é nada sério.” Ele estava ficando cada vez mais tímido. Ele tava muito fofo. “Você consegue pintar, por exemplo, eu?” Metida que sou, não poderia deixar essa pergunta passar, por que eu sou assim? A quem eu puxei? Meus pais não são tão inconvenientes dessa maneira. “Eu nunca tentei... posso tentar, se você deixar.” Sorrimos, um com mais cara de bobo que o outro, mas eu estava mais feliz e ele mais envergonhado. “Você sabe o meu nome?” Perguntei para quebrar o gelo. “Sei, e você, sabe o meu?” Respondeu perguntando. “Sei, também” Disse sorrindo. “Seus olhos são lindos” sussurrou elogiando. “Os seus são... verdes ou azuis?” Perguntei MUITO TROUXAMENTE! Ele me elogiou e eu faço esse tipo de pergunta? Que babaca! O que ele vai achar de mim? “São verdes, a maioria do tempo, as vezes fica um pouco marrom claro.” Por que será que homens não sabem dizer “mel” será que eles acham meio gay? Marrom claro não é cor de olho. Mas ele é tão lindo, não?! “Tá matando aula de química por que?” Ele as vezes consegue fazer perguntas difíceis, não?! “Por que não gosto de química. Aliás, por que odeio química” Não me ache idiota, por favor! Não me ache idiota! “Quer matar aula de história comigo lá na cantina?" AI-MEU-DEUS-DO-CÉU! CLARO QUE SIM! "Eu gostaria de ouvir mais sobre suas histórias do que sobre história do Brasil”

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